VOLTAR PARA OS TEMAS
UNICAMP 2017 - CARTA DO LEITOR - A VOLTA DE UM RIO QUE FAZ SONHAR
UNICAMP
UNICAMP
– 2016/2017
REDAÇÃO
1 – CARTA DO LEITOR
REDAÇÃO
2 – TEXTO PARA PUBLICAÇÃO EM SITE
ABAIXO,
REDAÇÃO 1
CARTA DO LEITOR – A VOLTA DE UM RIO QUE FAZ SONHAR
(ID: ERS)
Como
um(a) aluno(a) do Ensino Médio interessado(a) em questões da atualidade, você
leu o artigo “A volta de um Rio que faz sonhar”. Sentindo-se desafiado(a) pelos
questionamentos levantados no texto, você decidiu escrever uma carta para a
Seção do Leitor da revista Rio Pesquisa. Em sua carta, discuta a relação estabelecida
pela autora entre o conceito de Brasil cordial e a presença de estrangeiros no
Brasil, apresentando argumentos em defesa de um ponto de vista sobre a questão.
A
volta de um Rio que faz sonhar
Reverenciada mundialmente por suas belezas naturais, a
cidade do Rio de Janeiro tem se transformado em espaço sonhado para aqueles que
buscam construir seu futuro em terra estrangeira. Imigrantes, de origens variadas,
vêm chegando à cidade, buscando garantir sua sobrevivência, fugir à pobreza ou
transformar seus sonhos em realidade. Esse processo insere-se em um quadro mais
geral de transformações. Graças à situação assumida pelo Brasil, como uma das
maiores economias do mundo, polo de atração na América do Sul, o país vem se
tornando, mais uma vez na história, importante lugar de chegada, em um momento em
que políticas de vigilância e controle sobre os estrangeiros aprofundam-se nos
países ricos em crise.
Essa nova situação exige estudos que ultrapassem as
questões pontuais para incluir análises sobre as relações presente e passado;
entre o local, o nacional e o internacional e entre as práticas e as representações
sobre o “outro”. O recente episódio da entrada abrupta de haitianos no Brasil,
sem dúvida, apontou a necessidade dessas análises ampliadas. Para além da
conjugação entre a necessidade de partir e o conhecimento adquirido sobre um
país que se tornou “próximo” pela presença das tropas brasileiras em solo
haitiano, o processo revestiu-se de preocupantes aspectos de mudança. Dentre
eles, a ação dos coiotes na efetivação dos deslocamentos, marca indicativa do
ingresso do país em um contexto no qual grupos organizados vivem da imigração
ilegal e máfias internacionais enriquecem com o tráfico humano. O episódio pode
ser visto, assim, como a ponta de um iceberg que tende a envolver a América
Latina e o Caribe, considerando-se uma das tendências dos processos migratórios
da atualidade: as migrações regionalizadas, realizadas no interior dos
subsistemas internacionais.
Brasil: país cordial?
A predisposição do Brasil em receber o estrangeiro de
braços abertos é ideia consagrada que necessita sofrer o peso da crítica.
Pesquisas variadas têm demonstrado que o país nunca foi imune aos processos de discriminação
do “outro”. Um exemplo, entre vários, pode ser dado pela prática da expulsão de
estrangeiros na Primeira República (1907-1930), que se caracterizou por extrema
violência, mesmo contra aqueles que já eram considerados residentes, portanto
com os mesmos direitos constitucionais dados aos brasileiros. A representação
de um Brasil cordial, desta forma, deve ser entendida como uma construção
forjada em determinado momento de nossa história. Lógico que as reações
diferiam e diferem de acordo com os diferentes tipos de estrangeiros com os
quais travamos contato, ocorrendo diferenças de tratamento em relação àqueles
que, pelo local de nascimento ou pela cor, classificamos como superiores ou
inferiores. Vários indícios vêm demonstrando que as atitudes discriminatórias
não ficaram perdidas no passado, mas podem ser encontradas com relativa
facilidade, quando treinamos nosso olhar para melhor observar aquilo que nos
cerca. As tensões entre brasileiros e bolivianos nos locais onde estes estão
mais presentes, por exemplo, já são bastante visíveis. Isso sem falar no triste
espetáculo do subemprego e da exploração a que estão sujeitos latino-americanos
fixados ilegalmente no país. É urgente, portanto, que nos perguntemos como
tendemos a ver e sentir a presença cada vez mais visível de estrangeiros em
solo brasileiro, principalmente daqueles que são oriundos de países pobres,
muitos deles necessitando do foco dos direitos humanos. Seremos sensíveis aos
discursos e às práticas xenófobas? Defenderemos políticas restritivas e repressoras?
Caminharemos para a sofisticação dos instrumentos de vigilância sobre um
“outro” que possa ser visto como ameaça? Responder a essas questões, aqui e
agora, seria um exercício de profecia que não nos cabe fazer. Isso não exclui,
entretanto, que a reflexão sobre essas possibilidades esteja proposta, por mais
penosa que ela possa ser, principalmente se considerarmos a rapidez dos
processos em curso e a tensão mundial presente no embate entre interesses
nacionais e direitos humanos.
(Adaptado
de Lená Medeiros de Menezes, A volta de um Rio que faz sonhar. Rio Pesquisa,
Rio de Janeiro, ano V, nº 20, p. 48-50, set. 2012.)