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Carta pessoal: brigas banais

CARTA PESSOAL - EF ANOS FINAIS

Por que o amor é tão frágil e a raiva tão potente?

 

Compartilho essa história porque ela não é minha. Ela é daquelas histórias que são da gente mais ao mesmo tempo de todo mundo. Acho que, de certa forma, estamos sempre atravessando campos de batalha: seja lutando, seja fugindo, seja protegendo alguém ou, ainda, sendo protegido. Essas travessias vão dando o tom da nossa trajetória. E, se não tomarmos cuidado, nos envolvemos tanto, tão profundamente nas guerras, que perdemos o pouco precioso tempo que temos nessa curta vida para amar. “Não se demore onde você não possa amar”, disse a artista. Esse mote me acompanha. Minha maior guerra é contra a guerra, contra esse meu impulso, que não é meu, que é cultural, que é transgeracional, de me conectar com a dor ao invés de apostar no amor.

Amar o por do sol, a chuva, amar a fuga e os recomeços, amar os fins e a tristeza, porque da morte também surge nascimento. Amar a dor das separações acreditando que o reencontro irá acontecer se estivermos firmes no nosso propósito de amor.

Nossa sociedade preconiza, constantemente, essa relação imediata com a raiva. Mais um projeto de dominação do patriarcado. Nessa operação, ficamos submetidos à busca de saídas para nossos sofrimentos que são, necessariamente, externas e temporárias. Ou seja, esse projeto nos conecta com o consumo, com a avidez, com a ansiedade. Nos faz construir argumentos que embasam certezas e nos afastam das dúvidas primordiais que fundamentam nosso coração e a nossa abertura para a vida.

É muito importante que possamos sentir e acolher nossas raivas. Nomeá-las e vivê-las de fato. Mas não é essa a saída. Viver a raiva não é “grudar” nela. Se o convite do amor nos deixa apreensivos, o convite da raiva imediatamente apresenta uma cola, um grude, um chamado para uma super conexão que explica todas as nossas dores e justifica nossas covardias.

“É mais fácil ser triste que alegre”, já disse o compositor, assim como é mais fácil ser covarde e se esconder em desculpas que assumir um caminho focado no amor. Esse é delicado, frágil, facilmente ameaçado, nos expõe e nos intranquiliza, nos conecta com nossa vida e com nossa própria morte. “Em tempos de ódio, é preciso andar amado.”

 

Myrna Coelho é psicóloga clínica, professora e doutora pela USP. Decidiu recomeçar a vida do outro lado do oceano, onde segue atendendo seus pacientes e dando supervisão online. Por aqui, semanalmente, reflete sobre como podemos viver com mais liberdade de ser. Mande sua mensagem para: myrnacoelho@usp.br.

 

PROPOSTA DE REDAÇÃO: Com base no texto “Por que o amor é tão frágil e a raiva tão potente?”, imagine a seguinte situação: você terminou um relacionamento amoroso por uma briga banal. Escreva uma carta pessoal, com, no máximo 30 linhas, em que você relembre bons momentos ao lado da pessoa amada e apresente argumentos a fim de reatar o namoro. Nesta carta pessoal, seu destinatário deverá se chamar Joaquim ou Josefina e você, o remetente, deverá  assinar como Marina ou Mário.

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