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MODELO ENEM - ARQUITETURA HOSTIL

ENEM

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ARQUITETURA HOSTIL

MODELO ENEM

ID: G84


Texto I

Na contramão de uma cidade acolhedora e sociável, a arquitetura hostil está aí para afastar. Ela se manifesta por meio de barras ao centro de bancos, gradis ao redor de uma praça, espetos afiados em canteiros e pedras pontiagudas sob viadutos. O intuito é inibir que pessoas usem esses espaços para descanso ou lazer, e atinge principalmente as que vivem em situação de rua.

Na cidade de São Paulo, um exemplar de hostilidade chamou atenção quando a prefeitura instalou pedras sob um viaduto na Zona Leste. A gestão Bruno Covas (PSDB) informou em nota que a implantação foi uma decisão isolada. “Foi imediatamente determinada a remoção e instaurada sindicância para apurar os fatos, inclusive o valor, e um funcionário já foi exonerado do cargo”. O caso ganhou ainda mais repercussão quando o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, viu funcionários da prefeitura removerem as pedras. Ele pegou uma das marretas e ajudou a quebrá-las. “Eles colocaram pedras pontiagudas debaixo do viaduto alegando que era para evitar descarte de lixo, mas era para presença de pessoas em situação de rua”, disse. "Hoje [quarta-feira, dia 3] arrancaram tudo, passaram cimento em cima, muito mal-acabado e não sabem o que vão fazer ali."

Um levantamento realizado em 2019, a prefeitura informou que, na capital, 11.693 pessoas estão acolhidas em albergues e 12.651 encontram-se rua. Para Lancelotti, com a pandemia, já possível perceber um crescimento.

“Tem um maior número porque mais gente perdeu emprego, temos menos oportunidade de trabalho, há gente se movimentando pelo Brasil. É uma mobilização muito grande e essas pessoas não têm onde morar”, disse. “A locação social é uma das alternativas. São Paulo tem mais casas sem gente do que gente sem casa”. Para efeito imediato, o ideal é a bolsa aluguel, repúblicas, moradias provisórias, e parceria com redes hoteleiras.



ANA LUIZA CARDOSO | FOTOS REPRODUÇÃO / INSTAGRAM / GETTY IMAGES

https://casavogue.globo.com/Arquitetura/Cidade/noticia/2021/02/arquitetura-hostil-o-que-e-e-como-se-manifesta-na-cidade.html


Texto II

A chamada arquitetura hostil — como blocos de concreto e vergalhões instalados sob viadutos — representa uma política higienista disfarçada de urbanismo moderno. Segundo o Padre Júlio Lancellotti, trata-se de uma tentativa deliberada de afastar das cidades as pessoas em situação de rua, negando-lhes até mesmo um abrigo mínimo. Esse tipo de intervenção, longe de resolver problemas sociais, retoma práticas excludentes herdadas do Brasil após a abolição, quando os negros libertos foram impedidos de ocupar espaços públicos. A justificativa de que o controle do espaço público evita o descarte de lixo ou seguem critérios estéticos revela não só arbitrariedade, como também desprezo pela dignidade humana. Em pleno século 21, ainda se reforça a lógica de que quem não consome ou não contribui economicamente não tem direito à cidade. É preciso que o Ministério das Cidades e o da Infraestrutura promovam uma arquitetura mais inclusiva, que humanize o espaço urbano e respeite a cidadania.

Gislaine Buosi, educadora.



PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “Caminhos para acabar com a arquitetura hostil”. Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.