Cartola:
Angenor de Oliveira, mais
conhecido como Cartola, nasceu em 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete,
zona sul do Rio de Janeiro. Filho de uma família humilde, passou a infância em Laranjeiras,
num momento em que a cidade atravessava um período de reformas urbanas
radicais. Entre o final do século XIX e o início do XX, as obras de
“modernização” do centro do Rio — conhecidas como "bota-abaixo",
comandadas pelo prefeito Pereira Passos — resultaram na demolição de cortiços e
na expulsão de moradores pobres das regiões centrais.
A família de Cartola foi uma das
afetadas por esse processo. Diante do avanço das remoções, mudou-se para o
Morro da Mangueira, na zona norte da cidade — um dos espaços periféricos que
começavam a se verticalizar com barracos e casebres de madeira construídos por
trabalhadores negros e pobres expulsos do centro. Foi ali, em meio à
precariedade e à efervescência cultural da favela nascente, que Cartola formou
sua identidade artística.
Desde jovem, Cartola se envolveu
com a música. Aprendeu violão com o pai e, ainda adolescente, passou a
frequentar rodas de samba. Trabalhando como pedreiro, protegia a cabeça do
cimento usando um chapéu-coco, o que lhe valeu o apelido que o acompanharia por
toda a vida.
Em 1928, com apenas 20 anos,
participou da fundação da Estação Primeira de Mangueira, sugerindo o verde e o
rosa como cores da escola. Compôs sambas que se tornaram o hino da comunidade e
exerceu o cargo de diretor de harmonia da agremiação.
Cartola enfrentou duríssimo
preconceito social, devido ao seu envolvimento com o samba, uma expressão
cultural associada às classes marginalizadas. As letras de samba,
muitas vezes com humor e crítica social, e as performances em rodas de samba eram
vistas com desdém pela elite carioca. Os violeiros e o samba de breque — estilo
irreverente que utiliza pausas súbitas na melodia — eram considerados música de
"vagabundos". Além disso, a prática de tocar samba em tampo de mesa
era uma forma de resistência cultural aos pobres e negros, que transformavam
qualquer superfície em instrumento musical. O samba, em geral, era
estigmatizado como sinônimo de vadiagem e uma ameaça à ordem moral e social.
Durante a década de 1930, suas
composições ganharam destaque nas rádios e nas vozes de grandes intérpretes
como Carmen Miranda e Francisco Alves. Sua música logo se destacou pelo lirismo
refinado e pela sofisticação melódica, qualidades raras num tempo em que o
samba ainda enfrentava forte discriminação.
Apesar do reconhecimento, Cartola
viveu períodos de grande dificuldade. Nos anos 1940, afastou-se do samba,
enfrentou depressão e apagamento artístico. Foi reencontrado apenas em 1956 por
Sérgio Porto (o Stanislaw Ponte Preta), que o viu lavando carros em Ipanema.
Incentivado a retomar a carreira, voltou a compor e, ao lado de sua
companheira, Dona Zica, abriu o restaurante Zicartola, ponto de encontro de
sambistas, poetas e músicos da bossa nova.
Seu primeiro disco solo só foi
lançado em 1974, quando Cartola tinha 66 anos. Nele e nos álbuns seguintes,
estão algumas das composições mais conhecidas de sua obra: As Rosas Não Falam,
O Mundo é um Moinho, O Sol Nascerá E Cordas de Aço.
Cartola morreu em 30 de novembro
de 1980. Seu legado, no entanto, permanece. Suas canções seguem sendo
regravadas por artistas das mais diversas gerações e estilos, e sua trajetória
é símbolo não apenas da força criativa das periferias, como também da
resistência do samba como expressão da alma brasileira.
CONTEXTUALIZACÃO
E COMANDO: Você foi convidado a
entrevistar, imaginariamente, Cartola – uma das maiores representatividades do
samba. Lido o texto de apoio, passe, então, a “entrevistá-lo”. O tema central
da entrevista deverá focalizar o fato de Cartola ter sido vítima de preconceito,
tendo em vista o fato de que “tocar samba em tampo de mesa era uma forma de
resistência cultural aos pobres e negros” e ter sido destacado pelo “lirismo
refinado (...), qualidade rara num tempo em que o samba ainda enfrentava forte discriminação.”
Componha de seis a oito perguntas e respectivas respostas.
Para isso, leia e grife dos textos fragmentos importantes sobre a vida e a obra
do autor – eles serão, depois de ajustados, as “respostas” às perguntas que
você fará. Imagine ainda que a entrevista será publicada numa revista de grande
circulação. Crie falas/situações que forem necessárias à coerência da
entrevista.