Segundo Stella Maris Rezende, um escritor “tem que admirar
as coisas aparentemente sem importância nenhuma. Um caco de pires, por exemplo,
pode abrir um assunto, quebrar o gelo e puxar uma ladainha, saudade de avós,
lamparinas e escapulários, procissões, cachecóis de lã...”.
Então é isso! Saudade de avós, tios, primos, simpáticos ou
implicantes, doces ou amargos, mansos ou feras... Lembranças da família rendem
crônicas, novelas, romances... Rendem uma tarde debaixo da árvore, laranja
verde com sal!
E, claro, tudo isso precisa ficar registrado, para que não
se perca. Mas não é preciso ser tão fiel às cenas! Para compor as memórias
literárias vale enfeitar, inventar, colorir, descolorir...
COMANDO:
Vasculhe as gavetas da memória, recomponha uma cena
importante de sua infância, e então escreva um CONTO. Atribua um título ao texto.
IMPORTANTE:
Jornalistas, historiadores, chargistas, escritores,
poetas, muitas vezes, utilizam-se dos mesmos fatos sociais para a produção de
textos. Entretanto, Miguel de Cervantes, escritor espanhol, nos ensina que “Uma
coisa é escrever como poeta, outra como historiador: o poeta pode contar as
coisas não como foram, mas como deveriam ter sido, enquanto o historiador deve
relatá-las não como deveriam ter sido, mas como foram, sem acrescentar ou
subtrair da verdade o que quer que seja.
Leia
o fragmento de Gislaine Buosi, extraído de seu livro de memórias:
Sentada aqui, em
minha cadeira de palhinha, lembro-me de quando, numa tarde fria de junho, meu avô
Antenor me disse que ele tinha dois corações. Fiz uma careta, não sei ao certo
se de espanto, medo ou felicidade – meu avô não morreria de uma vez. Então
cheguei meu ouvido ao peito dele, e ouvi o Tum-tum, um forte, outro fraco.
Acreditei na história dos dois corações, muito embora eu ainda quisesse
fazer-lhe umas perguntas... Feliz por ter-me enganado, ele me deu um presente: um
regador. Então passamos o restante daquela tarde no jardim, regando as flores.
(...) Lembro-me de minha admiração pelo Chico, o gato de meu avô. Perguntei se
o Chico também tinha dois corações, e vovô me disse que gatos têm sete vidas e,
portanto, sete corações.