PROPOSTA DE TEXTO DISSERTATIVO
FGV 2012
ID: E83
Texto I
O filósofo brasileiro Paulo Arantes apresenta e discute uma tendência sociológica – corrente nos Estados Unidos e
em países europeus desenvolvidos – que acredita que está ocorrendo uma “brasilianização do mundo”. Segundo essa opinião,
o Brasil estaria se convertendo em um modelo social para o mundo, mas um modelo negativo: nas últimas décadas, até países
ricos estariam apresentando um quadro “brasileiro”, cujos traços principais seriam: favelização das cidades, insegurança
generalizada, precarização (“flexibilização”) do trabalho, distanciamento maior entre centro e periferia, “jeitinho” (brasileiro) para
negociar com a norma etc.
Assim, para a referida tese da “brasilianização”, o Brasil seria “o país do futuro”, só que de um futuro que promete
mais regressão e anomia social.
Paulo Arantes. “A fratura brasileira do mundo”. Zero à esquerda. S. Paulo, Conrad, 2004.
Texto II
O antropólogo brasileiro Roberto da Matta assim reagiu a essas teses da “brasilianização do mundo”: “O uso da
expressão brasilianização para exprimir um estado de injustiça social me deixa ferido e preocupado. De um lado, nada tenho a
dizer, pois a caracterização é correta. De outro, tenho a dizer que o modelo de Michael Lind exclui várias coisas. A hierarquia e
a tipificação da estrutura social do Brasil indicam um modo de integração social que tem seus pontos positivos. Nestes
sistemas, conjugamos os opostos e aceitamos os paradoxos da vida com mais tranquilidade. Seria este modo de
relacionamento incompatível com uma sociedade viável em termos de justiça social? Acho que não. Pelo contrário, penso que
talvez haja mais espaço para que estes sistemas híbridos e brasilianizados sejam autenticamente mais democráticos que estas
estruturas rigidamente definidas, nas quais tudo se faz com base no sim ou no não. Afinal, entre o pobre negro que mora na
periferia e o branco rico que mora na cobertura há muito conflito, mas há também o carnaval, a comida, a música popular, o
futebol e a família. Quero crer que o futuro será mais dessas sociedades relacionais do que dos sistemas fundados no conflito
em linhas étnicas, culturais e sociais rígidas. De qualquer modo, é interessante enfatizar a presença de um estilo brasileiro de
vida como um modelo para os Estados Unidos. É sinal de que tem mesmo água passando embaixo da ponte.”.
Idem. p. 60. Adaptado.
Texto III
Por sua vez, o compositor e escritor Jorge Mautner posicionou-se, quanto à mesma questão, da seguinte maneira:
A minha trajetória de vida me faz interpretar o Brasil pela forma radical da amálgama. Essa é a pedra fundamental do século
21. A amálgama é miscigenação, mas vai além: é ela que possibilita ao brasileiro reinterpretar tudo de novo em apenas um
segundo, e mais ainda, a absorver pensamentos contrários, atingindo o caminho do meio, que era o sonho de Lao Tsé, do
Buda e de Aristóteles.
É por causa dessa importância tremenda que teremos a Olimpíada e a Copa aqui. Ou o mundo se brasilifica ou vira
nazista. Até o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, é amálgama também: ele já foi pai de santo, faz descarrego. É quase
umbanda!
Depoimento a Morris Kachani. Artur Voltolini. (Colaboração para a Folha de S. Paulo). Adaptado.
PROPOSTA: Tendo em conta as ideias acima apresentadas, redija uma dissertação em prosa sobre o tema:
Brasil: um modelo positivo ou negativo para o mundo?
Argumente, de modo a deixar claro seu ponto de vista.