EM - DISSERTAÇÃO - MODELO UERJ - DESIGUALDADE SOCIAL
UERJ
DESIGUALDADE SOCIAL
MODELO UERJ
ID: ENX
O tema da prova de Redação da Uerj 2019-2020 será levantado a partir da leitura
de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Texto I
Apenas acesso à educação não é suficiente para reduzir a desigualdade social
no Brasil, diz estudo
O Brasil é hoje um dos países mais desiguais do
mundo com quase 30% da renda nas mãos de apenas 1% dos habitantes do país. Para
tentar diminuir tamanha brecha entre os ricos e os pobres, o investimento em
educação quase sempre aparece como um dos remédios mais promissores. A solução
frequentemente repetida para tentar resolver a desigualdade, entretanto, já é
relativizada por especialistas.
Um estudo recente mostrou que optar apenas por uma política
de expansão de ensino, dentro de um prazo razoável, não é suficiente para
melhorar os salários e impactar na distribuição mais igualitária de renda do
trabalho no país. (...) "Em termos
globais, a educação já não é mais uma grande solução para os problemas de
pobreza e desigualdade no Brasil. Ela pode ser vista como uma alternativa
apenas num prazo muito longo", explica Marcelo Medeiros, sociólogo dom Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). (...)
Em 2017, o Brasil era o nono país do mundo com a
maior desigualdade de renda. (...) O mais desigual do continente americano. (...)
"O que concluímos é que ter um ensino médio é pouco para combater as
diferenças de renda. O Brasil precisa massificar o acesso à universidade para
ter um resultado melhor na queda da desigualdade. Nas últimas décadas, o ensino
superior foi expandido, mas ainda precisa ser muito mais", diz Medeiros.
Concebo na espécie humana duas espécies de
desigualdade: uma, que chamo de natural ou física, porque é estabelecida pela
natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo
e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, que se pode chamar de
desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção, e
que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens: consiste esta nos diferentes privilégios de que gozam alguns com prejuízo dos
outros, como serem mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros, ou
mesmo fazerem-se obedecer por eles.
Fonte: ROUSSEAU Jean Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade.
Trad.: Maria Lacerda de Moura. São Paulo. Edições Ridendo Castigat Mores.
Texto III
Muita gente apela à ideia de que em um mundo sem
desigualdade não haveria incentivos e, como dizia, há uma certa verdade nessa
afirmação. Mas o objetivo não deve ser a desigualdade zero, e sim a pobreza
zero. O objetivo deve ser um nível de desigualdade manejável, aceitável, que
não se perpetue.
Se pudesse economizar durante alguns meses,
levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. (...)
Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser
expulso da fazenda. E rendia-se: Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom
pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço
inchando. De repente estourava: Conversa! Dinheiro anda num cavalo e ninguém
pode viver sem comer. Quem é do chão não se trepa. Pouco a pouco o ferro do
proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para
vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e
na hora das contas davam-lhe uma ninharia. Ora, daquela vez, como das outras,
Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada
e foi consultar a mulher. (...) Com certeza havia um erro no papel do branco.
Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira
assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
(...) O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse
procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem,
bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à-toa, pedia desculpa.
Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra.
Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os
homens.
Vidas Secas,
Graciliano Ramos
PROPOSTA DE REDAÇÃO: Com base na imagem, nos textos desta prova e em suas
reflexões, escreva uma redação argumentativo-dissertativa, em prosa, com 20 a
30 linhas, sobre o seguinte tema: “Contribuições político-sociais estratégicas
para acabar com as desigualdades sociais no Brasil”.