EM - DISSERTAÇÃO - MODELO EAOEAR - APROPRIAÇÃO CULTURAL
EAOEAR - DISSERTAÇÃO
APROPRIAÇÃO CULTURAL
MODELO EAOEAR
ID: DV3
Texto I
O debate sobre a apropriação cultural ultrapassa as fronteiras de uma discussão individual sobre pessoas brancas poderem ou não usar adereços como turbante, cabelos trançados ou dreads. Trata-se, principalmente, de uma discussão sobre racismo, etnocentrismo, capitalismo e sobre o uso que instituições como a indústria da moda fazem de produções de grupos minorizados. (...)
O fenômeno acontece quando um estrato social historicamente dominante marginaliza uma etnia, religião ou cultura, tornando seus símbolos e práticas abomináveis aos olhos da sociedade. Com isso, o grupo marginalizado abandona tais práticas, como uma forma de se adequar, na tentativa de sofrer menos preconceito.
“Com esse processo concluído, o mesmo grupo responsável pela marginalização passa, então, a ressignificar essas práticas e símbolos antes condenados, tentando torná-los atrativos para a maioria da população e visando o lucro”, explica a bacharel em História e educadora Suzane Jardim. “Nesse processo, toda a essência simbólica dos elementos é perdida. Eles passam a ser apenas objetos de desejo, cada vez mais caros e inacessíveis para os que foram primeiramente hostilizados”.
A filósofa Djamila Ribeiro (...) dá o exemplo do axé music, nascido no Carnaval de Salvador, a cidade com a população mais negra fora da África. “O axé foi criado por pessoas negras, que hoje pulam o Carnaval segregadas, do outro lado da corda. As cantoras de axé que mais fazem sucesso hoje são brancas e loiras”, diz. Além disso, o fato de cabelos trançados estarem na moda ou turbantes disponíveis em lojas de departamento e estampados em capas de revistas não se traduz em direitos e respeito aos negros e negras no Brasil. “Eu, quando uso turbante na rua, as pessoas me apontam e me discriminam. Ao mesmo tempo, uma pessoa branca com o mesmo acessório é vista como moderna”, conta Ribeiro.
(...) a apropriação cultural, como é dita na internet, não existe. O que existe é consumo no capitalismo tardio. O que existe é a indústria cultural. É interessante pensar que o conceito de apropriação cultural é antigo. Por exemplo, considera-se há tempos como apropriação cultural a introdução da cultura grega no império romano, após a conquista; considera-se apropriação cultural o numeral arábico no ocidente, assim como a tradução e posterior desenvolvimento da filosofia aristotélica pelos árabes no início da Idade Média.
No entanto, a dita pós-modernidade é uma época de invenção. Segundo a atual militância da internet, a apropriação cultural seria o ato de grupos dominantes se apropriarem de símbolos de luta de grupos oprimidos e retirar toda sua substância, transformando-os em meras mercadorias. (...) Talvez um outro caso famoso seja o do turbante (...). As longas discussões sobre as origens do turbante não levam em consideração que este elemento sempre foi utilizado pelos povos do oriente médio, para além da África, o que já prova a multiplicidade de significados que um mesmo objeto material pode ter em diferentes locais ao longo do tempo.
Muito além disso, o que essas discussões esquecem é que o significado de uma prática não se dá nas origens, mas na prática presente. (...) A indústria cultural já sugou toda essência de qualquer símbolo fora das delimitações europeias. Tudo é mercadoria. E não se engane, você é consumidor. Ninguém é especial.
(…) Por muito tempo o turbante foi visto de forma pejorativa como “coisa de macumbeiro”. Todo esse contexto faz com que um negro, ao usar um turbante hoje, use-o não apenas como um item estético, mas também como um símbolo de resistência, afirmação e orgulho da ancestralidade. (…) O poeta negro B. Easy publicou em sua conta no Twitter a frase: A cultura negra é popular, pessoas negras não são. A apropriação cultural esquece as práticas rituais e torna invisíveis as lutas desses povos. Pessoas começam a usar roupas e acessórios sem saber seus significados e origens. Ou seja, dá margem para que elementos de uma cultura sejam banalizados, estereotipados ou simplesmente reduzidos a “exóticos”. (…) Atualmente os questionamentos de apropriação cultural são intrinsecamente relacionados ao consumo cultural. Passado o período colonial, o século 20 foi marcado pela produção em massa dos bens de consumo. Surge um mercado consumidor ávido por novidades. A identidade de um indivíduo (quem sou e quem quero ser) começa a ser cada vez mais mediada pelo consumo das produções culturais.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: