O mal do mundo de hoje,
especialmente da sociedade brasileira, é o desencontro. Poucos se entendem. E
muitos procuram explorar os outros. A vergonhosa chaga da corrupção, que é
afronta a todos os cidadãos. Os recursos do país, desviados em proveito de
poucos com o sacrifício do bem comum de uma população.
A fraternidade possui uma
finalidade em si mesma, se é realmente o espaço em que se realiza um encontro
de consciência e de culturas, uma partilha de interioridades e uma deliberação
intersubjetiva em torno da vida que compartilhamos, e que por isso se torna
“nossa” e não apenas “de cada um”. É na fraternidade, então, que se encontram o
“tempo presente”, a condição humana que compartilhamos neste instante, o “tempo
justo”, kairós em que a palavra que cada um sabe dizer ao outro e dele ouvir é
a revelação do segredo cada um guardado pelo outro.
Zygmunt Bauman,
sociólogo e filósofo polonês
Texto III
A cultura do encontro, tão
necessária em nossos dias e tão minada na contemporaneidade, num sentido
universal, é exigência do viver em sociedade. Ninguém é uma ilha. Em maior ou
menor grau, com justiça ou injustamente, nós haveremos de nos relacionar uns
com os outros. O contrário disso é o caos social. Só há sentido falar de
sociedade pressupondo que os indivíduos se relacionem entre si. (...) As
pessoas que vivem em lugares interioranos, onde a vida é acompanhada pelo rito
do tempo que não “devora” seus filhos, ainda sabem experimentar bem o encontro
com o outro. Encontram-se na capela para uma liturgia; encontram-se na praça
para uma quermesse; encontram-se nos velórios e sepultamentos dos queridos e
dos vizinhos; encontram-se nas casas (...) etc. E o encontro é marcado pelo
reconhecimento; pelos olhos nos olhos; pela história que o outro carrega; pelo
nome, que identifica e pessoaliza aquele com o qual se encontra. Tudo isso pode
soar nostalgicamente a quem já experimentou a proximidade e o encontro com os
outros, tantas vezes. E isso é sintoma de que o individualismo tem prevalecido,
sequestrando o outro e tornando-o, cada vez mais, um anônimo.
O anonimato é uma das formas
mais cruéis de exclusão. E isso acabou se tornando um costume em grandes
cidades (...). A velocidade da vida (...) Nas metrópoles (...) não há espaço
para o reconhecimento e nem para o encontro.
Há algumas semanas era
inevitável e extremamente comum encontrar com um amigo ou com um familiar e
abraçar, apertar as mãos ou se beijar. Hoje, quando vemos uma cena dessas,
ainda que seja pela televisão, já nos causa estranheza. O calor do brasileiro
em cumprimentos afetuosos e trocas físicas já ficou para trás e historicamente
estamos vivendo um novo momento. A era tecnológica, a qual já viemos
experimentamos há alguns anos, marcará de vez uma nova maneira de nos
relacionarmos.
Aqui está o grande divisor de
águas entre a philia (amizade) do
mundo antigo e a amizade dos sistemas sociais modernos: ao passo que a primeira
é o que cimenta a cidade, sendo, portanto, pressuposto de qualquer vida
política que generaliza o privado reproduzindo-o na vida pública, a segunda não
reitera o próprio modelo comunitário, mas o separa.
Eligio Resta,
filósofo italiano
Texto VI
Além das reverberações
macroestruturais em termos econômicos, sociais e laborais, a COVID-19 também
provocou e tem provocado mudanças nos padrões de funcionamento das famílias. A
rotina foi drasticamente afetada, a rede de apoio social ficou fragilizada com
o distanciamento imposto e o elevado número de óbitos reverberou de maneira
intensa no processamento do luto pela perda de pessoas queridas. Todos esses
fatores afetaram a saúde e a qualidade de vida da população (...). Todos esses
impactos sociais, econômicos e emocionais apresentam-se às famílias como
estressores, intensificando sua vulnerabilidade e demandando um processo de
reorganização estrutural.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos motivadores seguintes
e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um
texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: “A CULTURA DO
ENCONTRO/DESENCONTRO NO DESAFIADOR MOMENTO EM QUE VIVEMOS, NO BRASIL DO SÉCULO
21”. Apresente proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.