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UNIMONTES 2024 - BRANQUITUDE E PRIVILÉGIO

PAES - UNIMONTES

BRANQUITUDE E PRIVILÉGIO

DISSERTAÇÃO – UNIMONTES 2024 – ID: IID



Texto 1

Djamila Taís Ribeiro dos Santos é uma das principais intelectuais negras e feministas do Brasil. É filósofa, escritora e pesquisadora, mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo. É também colunista do jornal Folha de S. Paulo e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais, entre outras atividades.

Disponível em: https://pausaparaumcafe.com.br/colecao-feminismos-plurais-e-seu-combate-aos-aparatos-coloniais/. Acesso em: 12 out. 2023.


Sobre as suas ideias, leia o texto a seguir, transcrito do áudio de uma entrevista ao podcast podpah, que se encontra no Instagram Influência Negra.




Como é que cê vai falar: Acorda mais cedo???

A minha mãe acordava 4 horas da manhã.

Isso não quer dizer nada, a minha mãe era superesforçada.

E não é essa a questão.

E não tem nada a ver com isso.

O que tem a ver é que a gente parte de um lugar marcado por desigualdades estruturais.

Então, como é que eu ia falar pro meu aluno da periferia, que trabalhava de dia pra estudar à noite, que não se alimentava bem, que não tinha condições, que...

Ah! Basta você se esforçar aí, que você passa no vestibular da USP. 

Claro que ele poderia até passar, mas ele ia ter que fazer um milhão de coisas.

Aí o outro que mora, sei lá, nos Jardins, estuda outros idiomas, se alimenta bem...

Enfim, quem vai passar???

O outro que mora nos Jardins vai passar, não porque ele é mais inteligente, mas é porque ele teve mais oportunidades.

Porque não é uma questão de capacidade, é uma questão de oportunidade.

Porque, quando você dá oportunidade, a gente vai.

Eu tive oportunidade de estudar, hoje estou aqui conversando com vocês.

Se a gente tem oportunidade, a gente vai e estuda.

A questão é que as oportunidades não são as mesmas...

E as pessoas querem, às vezes, validar um discurso...

Não entendem que a realidade delas não é a realidade de todo mundo.



Texto 2

A relação entre branquitude e privilégio: O processo de colonização das Américas pelos europeus e, posteriormente, o conceito de raça, forjado pela pseudociência do fim do século 19, construíram uma ideia fictícia de superioridade branca que tem efeitos perceptíveis no cotidiano e na sociedade brasileira como um todo. Embora raça seja uma construção social e não exista biologicamente, os brancos usufruem de privilégios e vantagens que vão desde ter mais facilidade de ascensão social a não receberem, no dia a dia, olhares de desconfiança ao entrar numa loja para fazer compras. [...]

Reconhecendo os privilégios dos brancos: [...] Os privilégios, tanto simbólicos como materiais, operam, portanto, no sentido de criar vantagens às pessoas do grupo racial branco, possibilitando maior acesso a direitos, mesmo os mais básicos, bem como uma maior facilidade de ascensão social. Desse modo, vale caracterizar que a branquitude é uma posição em que sujeitos que a ocupam foram sistematicamente privilegiados no que diz respeito ao acesso a recursos materiais e simbólicos, gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo imperialismo, e que se mantêm e são preservados na contemporaneidade. Como exemplo disso, podemos citar o famoso artigo de 1988, de Peggy McIntosh, em que ela elenca, a partir de sua experiência como mulher branca, privilégios da branquitude no dia a dia: “Se eu desejar, consigo estar na companhia de pessoas da minha raça a maior parte do tempo. Posso fazer compras sozinha a maior parte do tempo, sabendo que não serei seguida ou assediada. Posso ligar a televisão ou abrir a primeira página do jornal e ver pessoas da minha raça amplamente representadas. Quando me falam da minha identidade nacional ou sobre “civilização”, mostram-me que pessoas da minha cor fizeram do meu país o que ele é. Posso ter certeza que meus filhos receberão materiais curriculares que atestam a existência da raça deles. [...] Consigo proteger meus filhos a maior parte do tempo de pessoas que podem não gostar deles. [...] Posso me dar bem em uma situação desafiadora sem que digam que o crédito é da minha raça. Nunca sou chamada a falar em nome de todas as pessoas do meu grupo racial. [...] Posso me sentir segura de que, quando eu pedir para falar com “o responsável”, vou encontrar uma pessoa da minha raça. Se um guarda de trânsito me pede que pare ou se um fiscal da receita auditar meus impostos, posso seguramente saber que tal decisão não ocorreu por conta da minha raça. Posso facilmente comprar pôsteres, cartões postais, livros de fotos, cartões de aniversário, bonecas, brinquedos e revistas infantis com fotos de pessoas da minha raça. [...] Posso escolher acomodações públicas sem temer que as pessoas da minha raça não poderão entrar ou serão destratadas nos lugares que eu escolhi. [...] Posso escolher um corretivo ou curativo cor “da pele” e saber que ele mais ou menos vai ter o mesmo tom da minha pele.

Fonte: SCHUCMAN, Lia Vainer. A relação entre branquitude e privilégio. REVISTA CIÊNCIA HOJE.

Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-relacao-entre-branquitude-e-privilegio/. Acesso em: 12 out. 2023. Adaptado.



PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos, elabore, em 20 linhas, uma redação dissertativo-argumentativa. Sua redação deve apresentar um ponto de vista por meio de argumentos, isto é, uma tese (introdução), um desenvolvimento argumentativo que comprove a tese, e uma conclusão em síntese, com estilo de língua formal adequado a essa escrita e que atenda à seguinte temática: A branquitude como lugar de normatividade, a partir das normativas raciais eurocêntricas, que negam ou limitam, nas escolas brasileiras, nos livros, o conhecimento aos aspectos da história e da cultura africanas, desvalorizam a ancestralidade histórica, literária, filosófica, científica da África, bem como desvalorizam as estéticas e as religiosidades negras, e perpetuam o privilégio branco. 

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