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UFRGS 2020 - MÚSICA BRASILEIRA
UFRGS
PROVA DE REDAÇÃO
MÚSICA BRASILEIRA
UFRGS – 2020
ID: GE3
Leia, abaixo, o texto escrito pelo jornalista
Leonardo Lichote e publicado no Jornal O Globo, em fevereiro de 2018:
Críticas a ‘Que tiro foi esse?’ e outras canções
levantam a questão:
a música brasileira está pior?
Há alguns dias, um texto (erradamente) atribuído a Arnaldo Jabor circulou
pela internet atacando a qualidade da música que se ouve hoje no Brasil.
Partindo do refrão do sucesso Que tiro foi esse?, de Jojo Todynho, o artigo
trazia frases como Que tiro foi esse? Que acertou os tímpanos do nosso povo,
fazendo-os ouvir lixo achando que é música.
O cantor e compositor Jorge Vercillo foi um dos que compartilharam a
história em seu perfil no Facebook. Em dezembro, Lulu Santos, observador atento
há décadas da música das periferias, que costuma trazer pra perto de sua
própria produção, já havia soltado um comentário do mesmo teor no Twitter:
Caramba! É tanta bunda, polpa, bumbum granada e tabaca que a impressão que dá é
que a MPB regrediu pra fase anal. Eu, hein?
Os hits são novos, mas a polêmica é antiga. Veja a pancada a seguir: é a
mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens. Acha
que é sobre lambada? Dança da garrafa? Funk? Longe disso e por muitas décadas.
Foi assim que o Diário do Congresso Nacional de 8 de novembro de 1914 reagiu a
uma música de Chiquinha Gonzaga, Gaúcho, famosa como Corta-jaca. Esse é um de
muitos exemplos de artistas que já foram atacados e (em algum nível) acabaram
legitimados e aceitos pela nobreza da MPB ou pela academia. Os exemplos passam
por Pixinguinha, Luiz Gonzaga, É o Tchan. E nem a bossa nova escapou. Foi
chamada de mera cópia da música americana por Tinhorão.
— Por trás dessas reações está sempre o mesmo princípio: o preconceito.
Mas não tem como. Tudo isso representa a música brasileira diz Ney Matogrosso.
O funk, sim, é calcado na estética americana, e essa talvez seja minha única
crítica. Mas o ritmo, eu adoro. Quanto ao aspecto sexual, não vejo problema. A
umbigada vem lá dos escravos, né? É o tal negócio: se não gosta, come menos; se
não se interessa, não ouve.
Fred Coelho, professor de Literatura da PUC-Rio, vai ainda mais fundo ao
investigar o traço (racial, moral, social) que atravessa essas críticas há mais
de um século. Ele explica que a leitura que se fazia dos artistas era
determinada pelas origens deles: músicos de favelas, de classe média,
nordestinos, urbanos, caipiras.
— Nas últimas décadas, tais marcações foram deslocadas para temas mais
políticos. As favelas tornam-se periferias tecnológicas globalizadas, caipiras
dominam as paradas com as variações do sertanejo e músicos regionais produzem
do tecnobrega e da guitarrada paraense ao som primoroso de Siba ou da rabeca da
Thomas Rohrer.
Só a música de classe média a canção popular radiofônica dos anos 1980 e
90 permanece no mesmo lugar, segundo Coelho. E esse talvez seja um dos motivos
das críticas, do estranhamento entre quem está estabelecido e quem chega como
novidade. Uma dinâmica que pode até vir a ter efeitos positivos:
— A saída, talvez, seja entender que essa dinâmica faz com que parte do
público ouça, sem distinção, Mr. Catra, Luan Santanna, Pabllo Vittar, Zeca
Pagodinho e, certamente, Lulu Santos. Pode ser um aprendizado ver como um
músico que é pura história da canção sofisticada brasileira, como Chico
Buarque, comentou esse quadro em “Caravanas”.
O compositor João Cavalcanti concorda que há uma lógica de disputa,
pontuada pelo moralismo. E compara:
— Se o ataque fosse à simplicidade das canções, atacariam Caymmi por
dizer se fizer bom tempo amanhã eu vou/ mas se por exemplo chover não vou. É um
ciclo tão previsível que o próprio criticado de ontem vira o crítico da vez diz
ele, lembrando que tanto Lulu quanto Vercillo já apanharam por fazerem sucesso.
Não que seja o caso de aderir de forma irrestrita a tudo o que vira
viral, pondera Cavalcanti:
— Também me incomodo com determinadas repetições, fórmulas. E tenho certo
bode do discurso que diz que algo é maravilhoso só porque é popular. Mas não
posso usar meu gosto para dizer o que serve ou não ao povo.
No centro de tudo, ele aposta, está a dificuldade de compreensão do
outro:
— Tem menos a ver com a qualidade em si do que com uma dificuldade de
entendimento dos mundos diferentes que convivem num mesmo país.
(Os artistas populares) não precisam do aval de ninguém, a não ser desse
público. Quanto tempo vão durar? Vai saber...
A radialista Patricia Palumbo, do Vozes do Brasil, se afina na mesma
percepção:
— Se é cultura de massa que o artista almeja, ele tem que ir atrás das
massas, traduzir o que pensa e como vive esse público que não lê os clássicos,
não vai a concertos, não foi ao cinema e muitas vezes nem à escola. É um
desafio.
A Tropicália, que deu régua e compasso para que muito da música de origem
popular fosse legitimada, era uma tentativa de diálogo com essa produção fosse
o pop internacional, fosse a música radiofônica ou das ruas do Brasil profundo.
E sentiu os efeitos disso, recorda Tom Zé:
— Minha tia dizia que a gente não fazia música, fazia ritmo. Fico
imaginando o que ela diria de MC Loma (do hit Envolvimento), que ouvi outro dia
e achei muito simpática ri o tropicalista.
Os donos dos hits seguem alheios ao debate, nota Zélia Duncan:
— Os sertanejos vivem num universo que nem alcançamos. Possuem aviões e
plateias que enchem estádios, vários dias por semana. Não precisam do aval de
ninguém, a não ser desse público. Quanto tempo vão durar? Vai saber...
Adriana Calcanhotto, que apanhou ao gravar Claudinho & Buchecha, não
arrisca previsão, mas amarra a discussão citando um samba, com ar clássico, de
outro tropicalista:
— Parece que desde que o samba é samba é assim.
Disponível em: https: / / oglobo.globo.com/ cultura/
musica/
criticas-que-tiro-foi-esse-outrascancoes-levantam-questao-musica-brasileira-esta-pior-22406901.
Acesso em: 20 out. 2019.
O texto acima discute uma das principais
formas de expressão da cultura brasileira: a música. Já no título, é
apresentada a grande pergunta que conduz a elaboração de sua linha
argumentativa: a música brasileira está pior?
Para responder a tal indagação, Leonardo
Lichote vale-se da história da recepção da música pela crítica especializada,
de testemunhos de artistas e da indicação de vários exemplos. A partir disso,
ele faz o leitor compreender os motivos que o levam a expor um ponto de vista
acerca da questão. Sem dúvida, o assunto é controverso e o texto não ignora
isso!
Evidentemente, é fácil encontrar quem concorde
com a perspectiva assumida pelo jornalista e também quem dela discorde. E isso
não deve causar nenhum espanto, pois, quando se aborda um tema que está
presente no cotidiano de todos- como é o caso da música brasileira -, é comum
encontrar múltiplas opiniões.
Com certeza, você, após a leitura do texto,
também formulou uma opinião acerca das ideias nele contidas.
Assim, considere que você decidiu apresentar
ao jornalista a sua visão a respeito do que leu. Para tanto, você deverá
escrever um texto a ser enviado para o jornal, que poderá publicá-lo na sessão "Opinião do Leitor".
Observe que é muito importante que, em seu
texto, as ideias estejam expressas com clareza, para que os demais leitores do
jornal possam compreendê-las e, com elas, concordar ou não. Aliás, é
fundamental que você também lembre que o jornalista certamente vai ler o seu
texto.
Em resumo, você deverá escreve um texto
dissertativo que apresente o seu ponto de vista acerca das ideias, veiculadas
pelo texto do jornalista, a respeito da música brasileira.
Para tanto, você deve:
a) escolher uma ou mais ideias do texto,
defendê-la(s) e/ou contestá-la(s);
b) apresentar argumentos que justifiquem a sua
opinião a respeito dessas ideias, utilizando, se for o caso, os próprios
exemplos dados pelo jornalista.
O importante é que você explicite claramente o
que pensa sobre as ideias presentes no texto de Lionardo Lichete.
Instruções:
A versão final do seu texto deve:
1 - conter um título na linha destinada a esse
fim;
2 - ter a extensão mínima de 30 linhas,
excluído o título – aquém disso, seu texto não será avaliado –, e máxima de 50
linhas. Segmentos emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco
terão esses espaços descontados do cômputo total de linhas.
3 - ser escrita, na folha definitiva, com
caneta e em letra legível, de tamanho regular.