O trote estudantil é considerado por muitos alunos uma espécie de rito de passagem obrigatório para comemorar a aprovação no vestibular. Com o intuito de integrar os novos alunos na rotina do campus universitário, os veteranos do curso promovem uma série de brincadeiras.
Existe alguma lei que proíba o trote no Brasil?
No estado de São Paulo, há uma lei que proíbe a prática do trote violento nas universidades. De acordo com a legislação, o trote não é permitido quando promovido "sob coação, agressão física, moral ou qualquer outra forma de constrangimento que possa acarretar risco à saúde ou à integridade física dos alunos". A lei ainda obriga a direção das faculdades públicas a adotar medidas preventivas para impedir a prática do trote e a responder por omissão ou condescendência nos casos de abuso. O texto também prevê a aplicação de penalidades aos universitários, incluindo a expulsão da escola.
“O que mais importa, na iniciação, é que o calouro sinta na pele os efeitos do poder que o grupo exerce ou pretende exercer sobre todo o resto da sociedade.”
Pelo menos 19
calouros sofreram queimaduras pelo corpo após participarem de um trote do curso
de medicina veterinária da UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Palotina,
a 597,2 km de distância de Curitiba. (...) “Era para ser só uma brincadeira,
algo bem lúdico. Um trote clássico, com leite azedo, lama e cebola. Foi quando
vi que eles estavam com uma garrafa com um produto dentro e falaram que seria
desinfetante. Fui a primeira pessoa que jogaram isso e tive queimaduras de 1º e
2º grau pelo corpo. Enquanto eu gritava, eles continuavam passando o produto em
outras pessoas", conta uma caloura que prefere não ter o nome
identificado.
A origem medieval do trote universitário: A cada
temporada de matrículas, o trote volta a preocupar. Mas ele é também uma forma
de inserir os calouros na nova fase, algo que os antropólogos costumam chamar
de "ritual de passagem". Trata-se de uma tradição medieval - no
sentido temporal da palavra. Sim, a prática do trote persiste desde a Idade
Média. Segundo Antonio Zuin, professor do departamento de Educação da
UFSCar, os candidatos aos cursos das primeiras universidades europeias não
podiam frequentar as mesmas salas que os veteranos e, portanto, assistiam às
aulas a partir dos "vestíbulos" – local em que eram guardadas as
vestimentas dos alunos. "As roupas dos novatos eram retiradas e queimadas,
e seus cabelos, raspados. Essas atividades eram justificadas, sobretudo pela
necessidade de aplicação de medidas profiláticas contra a propagação de
doenças", explica Zuin, que é também autor do livro “O Trote na
Universidade: Passagens de um Rito de Iniciação”. (...) Mais intrigante é a
origem do termo "trote": é uma alusão à forma pela qual os cavalos se
movimentam entre a marcha lenta e o galope. A aplicação da palavra ao mundo das
relações entre calouro e veterano tem, na visão de Zuin, um significado
claramente negativo. É como se o primeiro devesse ser "domesticado"
pelo segundo "por meio de práticas vexatórias e dolorosas, que têm a
função de esclarecer quais são as características das respectivas
identidades".
Tapas, socos e
cuspe no rosto, humilhações públicas e em meios digitais. A lista de
constrangimentos relatados pelos calouros no trote da faculdade de medicina da
Unisa (Universidade Santo Amaro), em São Paulo, é extensa – faxinar a casa de
veteranos, ajoelhar-se para ouvir xingamentos aos gritos, aceitar apelidos (inclusive
de cunho racista), seguir regras de vestimenta e de circulação, além de enviar
ou receber fotos de genitais masculinos por redes sociais ou aplicativos de
mensagens.
BIMBATI, ANA Paula e BRITO, Gustavo. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/trotes-violentos-medicina-unisa/#page1.
Acesso em 23.out.2023.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “Trote universitário: integração social ou abuso de poder?” Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.