Texto II O significado com que a expressão chegou até nós é uma criação dos Estados Unidos dos anos 60. Na época, universitários americanos abraçaram a defesa dos direitos civis, seja das mulheres, seja dos negros. Era uma época de transformações na sociedade: as empresas e universidades, antes habitadas exclusivamente por homens brancos, naquele instante viam chegar mulheres, negros, gays, imigrantes. Era preciso ensinar as pessoas a conviverem com a diferença. Nisso, negro virou african-american, ("afro-americano"), fag ("bicha") virou gay ("alegre"). O paradoxal aí é que, pela primeira vez na história americana, quem buscava estender os direitos civis também advogava por uma limitação na liberdade de expressão.
Preconceito, nunca. Temos
apenas opiniões bem definidas sobre as coisas.
Preconceito é o outro
quem tem...
O leitor já observou como
temos o fácil hábito de generalizar (e prova disso é a generalização acima)
sobre tudo e todos? Falamos sobre “as mulheres”, a partir de experiências
pontuais; conhecemos “os políticos”, após acompanhar a carreira de dois ou três.
O mecanismo funciona mais ou menos assim: estabelecemos uma expectativa de
comportamento coletivo (nacional, regional, racial), mesmo sem conhecermos,
pessoalmente, muitos ou mesmo nenhum membro do grupo sobre o qual pontificamos.
Sabemos (sabemos?) que os mexicanos são preguiçosos porque eles aparecem sempre
dormindo embaixo dos seus enormes chapelões, enquanto os diligentes americanos
cuidam do gado e matam bandidos nos faroestes. Falamos sobre a inferioridade do
negro, a partir da observação empírica de sua condição socioeconômica. Achamos
que as praias do Rio de Janeiro, cheias durante os dias da semana, são prova do
caráter folgado dos cariocas. Não nos detemos em analisar a questão um pouco
mais a fundo. Não nos interessa estudar o papel que a escravidão teve na
formação histórica dos negros. Pouco atentamos para a realidade social do povo
mexicano, e de como ele aparece estereotipado no cinema hollywoodiano. O importante
é reproduzir, de forma acrítica e boçal, os preconceitos que nos são passados
por piadinhas. Temos pesos, medidas e até um vocabulário diferente para nos
referirmos ao “nosso” e ao do “outro”, numa atitude que, mais do que autocondescendência,
não passa de preconceito puro. Por exemplo: nós temos hábitos, eles vícios; nós
cometemos excessos compreensíveis, eles são um caso perdido; nós jogamos muito
melhor, o adversário tem sorte. Observar, estudar e agir respeitando as
diferenças é o que se espera de cidadãos que acreditam na democracia e, de fato,
lutam por um mundo mais justo. (Fragmento de Jaime Pinsky, historiador, doutor
e livre docente pela USP, adaptado.)
(...)
A coisa ficou preta: A
frase é utilizada para expressar o aumento das dificuldades de determinada
situação, e traz forte conotação racista contra os negros.
Baianada: Expressão
pejorativa que atribui aos baianos inabilidade no trânsito e em outras
atividades. Trata-se de um preconceito de caráter regional e racial, ao lado de
outros como o que imputa a malandragem aos cariocas, a esperteza aos mineiros,
a falta de inteligência aos goianos, a orientação homossexual aos gaúchos etc.
Branquelo: Existe no
Brasil preconceito racial contra pessoas brancas. Mais fortemente contra
membros das colônias europeias no Sul do País.
Burro: Xingamento
dirigido a quem se atribui falta de inteligência. Conferir às pessoas supostas
características de animais é um dos recursos mais comuns para desqualificá-las.
Denegrir: Esse verbo, com
o sentido de aviltar, diminuir a pureza, conspurcar, tornou-se ofensivo aos
negros e, por essa razão, deve ser evitado.
Palhaço: O profissional que vive de fazer as
pessoas rirem pode se ofender quando alguém chama de
"palhaço" uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade a uma
atitude sua.
http://www.dhnt.org.br/dados/cartilhas/a pdf dht/cartilha politicamente, fragmento adaptado.
Acesso em 09.jul.2021.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: O “politicamente correto” na sociedade contemporânea. Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.