Na mitologia
grega, Narciso, ou o autoadmirador, ficou conhecido pela sua beleza e também
pela impossibilidade de se contemplar, pois, segundo o mito, isso lhe renderia
vida longa. Se ele estivesse vivo hoje, talvez o mito grego o levasse a morte
instantânea. Isto porque, com a tecnologia, as pessoas buscaram outras formas
de se autoadmirarem, sobretudo com a explosão das redes sociais. A moda agora
é o selfie, palavra substantivada do Self “eu” em inglês, mais o sufixo -ie, uma
espécie de autorretrato feito com câmeras ou celulares. Tal prática, porém,
denota a que ponto a superficialidade humana tem chegado, com pessoas
extremamente preocupadas em sair bem na foto, enquanto outras questões humanas
são esquecidas por essa sociedade cibernética e fotoshopada.
Não vejo como negativas as estratégias de autopromoção, pois, embutido naquilo
que parece ser mero exercício de vaidade, pode estar a consciência de que somos
capazes de ter elevada autoestima e sentimento de pertencimento a um grupo que,
por exemplo, curte nossas fotos nas redes sociais. Negativos são atos de
vandalismo, negativo é o preconceito, a exclusão social. Deveríamos estar mais
preocupados em não atacar o outro. Enquanto o mal da civilização for tirar
fotos de nós mesmos e nos exibir, a humanidade estará a salvo.
Joana Cruso de Alencar, psicóloga
Texto IV
Não há gesto
intelectualmente mais correto que criticar os selfies, como são conhecidos os
autorretratos via smartphones que se popularizaram com a disseminação dos
celulares com recursos avançados de captação de imagem. Hipsters* e
acadêmicos se ocupam em associar as fotos em que modelo e fotógrafo se
confundem com o fenômeno do narcisismo da era das celebridades. Os selfies são
a abreviatura em inglês que surgiu do diminutivo de self-portrait. São os autorretratinhos
e, por extensão, poderiam ser vertidos para o neologismo em português
“autinhos” – ou, melhor ainda, “mesminhos”. Os selfies seriam uma chaga
contemporânea, o sintoma da decadência dos valores da humildade e da decência.
Seriam mesmo? O
estigma aos selfies tornou-se uma caça às bruxas da egolatria. Mas essa nova cruzada
parece mais ingênua e pervertida que a própria prática que as pessoas adotaram
de tirar fotos de si próprias. Atire a primeira farpa quem nunca fez um selfie.
Ou selfie do selfie, posando diante de um espelho para criar um abismo
infinito.
*Hipster é uma palavra
inglesa usada para descrever um grupo de pessoas com estilo próprio e que
habitualmente inventa moda, determinando novas tendências alternativas.
Texto V
Narciso, personagem da
mitologia grega, belo e vaidoso, foi incapaz de amar outras pessoas, e morreu
por se apaixonar pela própria imagem – daí a expressão “narcisista”. O conceito
foi depois reinterpretado por Freud, o primeiro que descreveu o narcisismo como
uma patologia. Nos anos setenta, o sociólogo Christopher Lasch transformou a
doença em norma cultural, e determinou que a neurose e a histeria que
caracterizavam as sociedades do início do século 21 tinham dado lugar ao culto
ao indivíduo e à busca fanática pelo sucesso pessoal e o dinheiro. Um novo mal
dominante. Quase quatro décadas depois ganhou força a teoria de que a sociedade
ocidental atual é ainda mais narcisa. Este comportamento parece expandir-se
como uma praga na sociedade contemporânea. E não só entre os adolescentes e
jovens que inundam as redes sociais.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: "A obsessão pelas selfies e o narcisismo contemporâneo." Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.