EM - DISSERTAÇÃO - MODELO UERJ - INDÚSTRIA DA SECA
UERJ
INDÚSTRIA DA SECA
MODELO UERJ
ID: ENV
O tema da Redação da Uerj 2019-2020 será levantado a partir da leitura de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Leia a coletânea de
textos de apoio:
Texto I
O fenômeno natural
das secas no nordeste ensejou o surgimento de um fenômeno político denominado “indústria
da seca”. Os grandes latifundiários nordestinos, valendo-se de seus aliados
políticos, interferem nas decisões tomadas, em escala federal, estadual e
municipal. Beneficiam-se dos investimentos realizados e dos créditos bancários
concedidos. Não raro aplicam os financiamentos obtidos em outros setores que
não o agrícola, e aproveitam-se da divulgação dramática das secas para não
pagarem as dívidas contraídas. Os grupos dominantes têm saído fortalecidos,
enquanto é protelada a busca de soluções para os problemas sociais e de oferta
de trabalho às populações pobres. Os trabalhadores sem terra (assalariados,
parceiros, arrendatários, ocupantes) são os mais vulneráveis à seca, porque são
os primeiros a serem despedidos ou a terem os acordos desfeitos.
A indústria da seca
tem sido combatida em duas frentes: a primeira é liderada pelo Ministério
Público (MP), que processa prefeitos e outros políticos e gestores públicos por
desvio de recursos emergenciais, o que resulta em mandatos cassados pela
Justiça; a segunda frente é a Ciência. Desde a intensa seca de 2012 e, pela
primeira vez de forma sistemática, as ações de mitigação dos governos federal e
estaduais foram guiadas pela melhor informação científica fornecida por
organizações de pesquisa federais e estaduais, como o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden), a área de pesquisa da Agência Nacional das Águas
(ANA), entre muitas outras. Estas ações canalizam recursos de mitigação para as
áreas criticamente atingidas em ações focalizadas como transferência de renda,
fornecimento de água e apoio à agricultura de subsistência. Estes programas
custaram mais de R$ 40 bilhões aos cofres públicos de 2012 até hoje, mas
criaram a necessária rede de proteção social para mais de 10 milhões de
habitantes rurais e urbanos em todo Nordeste.
Qual
a diferença entre “combate” e “convivência” com a seca?
Desde
a década de 1980, entendeu-se que não era possível "combater" ou
"enfrentar" a seca. Mudou-se, então, o olhar, surgindo a palavra
"convivência" como mais apropriada. O entendimento é o de que, se por
um lado o fenômeno natural sempre ocorreu e deverá inclusive se agravar e, por
consequência, não dá pra ser combatido, por outro, podem-se desenvolver
propostas e experimentar alternativas baseadas na ideia de que é possível e
necessário conviver com ele.
Que
soluções podem ser apontadas para a convivência com a seca?
Não
existe uma receita pronta e que sirva para todos. Entretanto, é essencial que
as famílias tenham acesso à água para consumo humano, para consumo animal e, em
alguns casos, para alguma produção. Além disso, é necessário que se tenha uma
gleba de terra com tamanho e com qualidade suficientes para o sustento dos
agricultores e de suas famílias. Havendo políticas que garantam isto, e
entendendo que para se conviver nesse ambiente torna-se necessário ter sistemas
de produção diversificados com cultivos alimentares, culturas de renda e,
principalmente, pequenas criações, é preciso, cada vez mais, trabalhar com
plantas mais resistentes (buscar inclusive opções entre espécies nativas),
animais mais rústicos (ainda que menos produtivos), além de se buscar uma
harmonia com o ambiente em que se vive. Outra questão crucial para a
convivência é a efetiva assistência técnica e extensão rural.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: Com base não só nos textos da coletânea e dos demais dispostos ao
longo da prova, mas também nas suas reflexões, escreva uma redação
argumentativo-dissertativa, em prosa, com 20 a 30 linhas, sobre o seguinte
tema: “A indústria da seca, o poder político e a pobreza no Brasil do século 21”.