Quando falamos em cidadania, nós a enaltecemos como
se fosse uma dimensão superior à política. Não devemos desmerecer a política,
como se fosse pertencente a um campo menos expressivo e inferior à cidadania.
Através da política é possível construir a cidadania e a democracia, na
definição política do termo: bem comum, igualdade social e dignidade coletiva.
E, nesse sentido, a cidadania e a democracia se revigoram. Como afirma Boff:
"o ser humano é um ser de participação, um ator social, um sujeito
histórico e coletivo de construção de relações sociais o mais igualitárias,
justas, livres e fraternas possíveis dentro de determinadas condições
histórico-sociais". O conhecimento social e o desenvolvimento político são
dois aspectos que cada vez mais vem se desvendando como instrumentos de
emancipação e autonomia do cidadão que deseja entender a sociedade e atuar como
autor, construtor e reconstrutor de realidades. Ao pensarmos a democracia
unicamente como ideal de igualdade, acabamos por aniquilar a liberdade. Existe
um grande perigo em conceber todos os indivíduos como iguais, pois excluiremos
o direito democrático da diferença, a possibilidade de pensar de maneira
diferente e de ser diferente.
A maneira mais fácil de garantir a permanência do
povo nas ruas, contudo, é ignorá-lo. Não ignorar o que ele grita, mas ignorar
por que ele grita. Ignorar a natureza das manifestações, atendo-se a distrações
como o tamanho ou a composição delas. Desqualificar o povo como “coxinhas”,
“golpistas”, “fascistas” ou epítetos bobocas do tipo agradará somente aos
poucos (...). Os brasileiros que foram às ruas neste domingo gritaram porque
querem ser ouvidos.
Dia desses, por conta da confusão instalada no
sistema político brasileiro, ouvi alguém dizer que “o Brasil precisa alforriar
sua democracia”. Urros e vaias à parte, a presidenta sofreu o impeachment, o
vice assumiu – ainda que debaixo de cenas do inconformismo dos cidadãos, ora
hasteando bandeiras vermelhas, ora verde-amarelas. Percebi a situação agravada
ao saber que as bandeiras eram hasteadas em nome do estômago, haja vista a
farta distribuição de cestas básicas aos manifestantes – e não, de fato, em
nome da Democracia. Para recorrer à fala comum, os ânimos estão exaltados. Em outros
tempos, exatamente durante a Quinta República – só para não mencionarmos aqui o
horror que se encerra na expressão “Ditadura Militar” – José Nêumanne, repórter
do jornal O Estado de S.Paulo, receberia voz de prisão ao enfrentar o Ministro Marco Aurélio e dizer-lhe, com
todas as letras, que não confia na lisura da Suprema Corte. Isso para citar um
único exemplo da ousadia de intelectuais, que, bravamente, em nome da
Democracia, abre as gavetas do Poder Judiciário e tira dali processos
encravados, verdadeira fortuna do Brasil ali amarrotada. E, importante dizer,
tudo isso só é possível por conta dos favores da Democracia que, ainda que não
alforriada, ainda que sangrando, permite a manifestação dos brasileiros.
Por Gislaine Buosi
COMANDO: A partir do material de apoio e com base
nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um Artigo de
Opinião em que seja abordado o tema: “Cidadania e participação social – como
conciliar democracia e ordem pública?”
Não custa lembrar...
O ARTIGO DE OPINIÃO, como o próprio nome já diz, é
um texto em que o autor expõe seu ponto de vista a respeito de algum tema
polêmico. É um gênero textual que se apropria do tipo dissertativo. O
articulista deve sustentar sua opinião por meio de evidências.
O texto,
geralmente, é escrito na 1ª pessoa, leva título e assinatura. Inserido em grandes jornais e revistas, é um serviço prestado ao leitor, com o objetivo de
convencê-lo acerca não só da importância do tema ali enfrentado, como também, e
principalmente, da relevância do posicionamento do articulista.
São comuns o
apelo emotivo, as acusações, o humor satírico, a ironia – tudo baseado em
informações factuais. No artigo de opinião, é preciso conjugar as seguintes
funções da linguagem: referencial (informação, na parte introdutória), emotiva
(criticidade, no desenvolvimento) e conativa (apelo/ordem/aconselhamento ao
leitor, na conclusão).