O debate
sobre a apropriação cultural ultrapassa as fronteiras de uma discussão
individual sobre pessoas brancas poderem ou não usar adereços como turbante,
cabelos trançados ou dreads. Trata-se, principalmente, de uma discussão sobre
racismo, etnocentrismo, capitalismo e sobre o uso que instituições, como a
indústria da moda, fazem de produções de grupos minorizados. (...) O fenômeno
acontece quando um estrato social historicamente dominante marginaliza uma
etnia, uma religião ou uma cultura, tornando seus símbolos e práticas abomináveis aos
olhos da sociedade. Com isso, o grupo marginalizado abandona tais práticas,
como uma forma de se adequar, na tentativa de sofrer menos preconceito.
"Com
esse processo concluído, o mesmo grupo responsável pela marginalização passa,
então, a ressignificar essas práticas e símbolos antes condenados, tentando
torná-los atrativos para a maioria da população, com vista ao lucro", explica a
bacharel em História e educadora Suzane Jardim. "Nesse processo, toda a
essência simbólica dos elementos é perdida. Eles passam a ser apenas objetos de
desejo, cada vez mais caros e inacessíveis para os que foram primeiramente
hostilizados."
A apropriação cultural, como é dita na internet, não existe. O que existe é consumo no capitalismo tardio. O que existe é a indústria cultural. É interessante pensar que o conceito de apropriação cultural é antigo. Por exemplo, considera-se há tempos como apropriação cultural a introdução da cultura grega no império romano, após a conquista; considera-se apropriação cultural o numeral arábico no ocidente, assim como a tradução e o posterior desenvolvimento da filosofia aristotélica pelos árabes no início da Idade Média.
No entanto, a dita pós-modernidade é uma época de invenção. Segundo a atual militância da internet, a apropriação cultural seria o ato de grupos dominantes se apropriarem de símbolos de luta de grupos oprimidos, e retirar toda sua substância, transformando-os em meras mercadorias. (...) Talvez um outro caso famoso seja o do turbante (...). As longas discussões sobre as origens do turbante não levam em consideração que este elemento sempre foi utilizado pelos povos do oriente médio, para além da África, o que já prova a multiplicidade de significados que um mesmo objeto material pode ter em diferentes locais ao longo do tempo.
Muito além disso, o que essas discussões esquecem é que o significado de uma prática não se dá nas origens, mas na prática presente. (...) A indústria cultural já sugou toda essência de qualquer símbolo fora das delimitações europeias. Tudo é mercadoria. E não se engane, você é consumidor. Ninguém é especial.
Por muito tempo o turbante foi visto de forma
pejorativa como “coisa de macumbeiro”. Todo esse contexto faz com que um negro,
ao usar um turbante hoje, use-o não apenas como um item estético, mas também
como um símbolo de resistência, afirmação e orgulho da ancestralidade. (…) O
poeta negro B. Easy publicou em sua conta no Twitter a frase: A cultura negra é
popular, pessoas negras não são. A apropriação cultural esquece as práticas
rituais e torna invisíveis as lutas desses povos.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: “A questão da apropriação cultural no Brasil do século 21”. Apresente proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.